Pela 1ª vez, cientistas flagram nascimento de sistema planetário fora do Sistema Solar

07/16/2025

05:12:13 PM

Ciência e Tecnologia

Imagem mostra a estrela jovem HOPS-315, onde astrônomos registraram sinais do início da formação de planetas. Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO) /M. McClure et al.

Fonte: Roberto Peixoto, g1


Fenômeno é semelhante ao que teria ocorrido nos primórdios do nosso próprio conjunto de planetas que orbitam o Sol.

Cientistas anunciaram nesta quarta-feira (16) uma descoberta até então inédita na astronomia: pela primeira vez, eles conseguiram flagrar o momento exato em que planetas começam a se formar ao redor de uma estrela jovem.

A observação histórica foi realizada através dos telescópios ALMA e James Webb, e revela os primeiros grãos de material rochoso se solidificando em torno da estrela, apelidada de HOPS-315.

Localizada a cerca de 1.300 anos-luz da Terra, na constelação de Órion, HOPS-315 é uma estrela com menos de 100 mil anos de idade, um verdadeiro “bebê estelar”.

E justamente por isso, ao redor dela, os cientistas conseguiram encontrar um disco de gás e poeira, chamado de disco protoplanetário, onde os primeiros minerais cristalinos desses planetas começaram a surgir.

Entenda: Esses discos são comuns ao redor de estrelas em processos de formação e marcam o início do surgimento de planetas — mas esta foi a primeira vez que cientistas observaram diretamente o nascimento dos primeiros componentes sólidos desses corpos celestes.

Fora isso, o que torna essa descoberta ainda mais importante é que ela revela o primeiro passo do processo de formação de planetas como a nossa Terra.

Uma coisa que nos mostra que esse processo acabou de começar é que a estrela ainda é muito jovem. E, considerando que a formação completa de um planeta terrestre pode levar dezenas de milhões de anos, o que estamos vendo é realmente o estágio mais inicial”, explicou ao g1 a astrônoma Merel van ’t Hoff, professora da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo publicado na revista Nature.

No estudo, a equipe identificou tanto o gás de monóxido de silício (SiO) quanto cristais de silicato presentes no disco. Essa combinação é essencial porque mostra que o gás quente começou a se resfriar e virar matéria sólida, ou seja, os primeiros blocos que, ao longo de milhões de anos, podem dar origem a planetas.

Detectar o SiO no gás nos diz que a região foi aquecida acima de 1.300 graus Kelvin no passado, e que os minerais sólidos surgiram do resfriamento desse gás”, afirma van ’t Hoff. “Sabemos que esse mesmo processo aconteceu no Sistema Solar primitivo, e agora sabemos que ele não foi único.”

Para chegar a esse resultado, os cientistas combinaram dados do Webb (que identificou a assinatura química dos minerais e a temperatura do gás) com as imagens de alta resolução do ALMA, que permitiram localizar com precisão de onde vinham esses sinais.

O Webb não tem resolução espacial suficiente para mostrar exatamente de onde o gás vem. Sem o ALMA, a imagem seria borrada demais para termos certeza”, acrescentou a pesquisadora. 

"Com o ALMA conseguimos ver que o gás está vindo da parte interna do disco, perto da estrela, e não de jatos de material sendo ejetado, o que nos dá confiança de que estamos vendo a formação de sólidos", acrescentou van ’t Hoff.

Além disso, o local onde os sinais foram detectados coincide com a região onde, no nosso Sistema Solar, está o cinturão de asteroides. E isso reforça ainda mais a semelhança com o ambiente que originou a Terra e os planetas rochosos.

Ainda segundo os cientistas, o sistema HOPS-315 é o mais parecido com o nosso Sistema Solar em seus primeiros estágios já observado - como se fosse uma "foto de bebê" do nosso próprio sistema.

"Mas, assim como dois bebês podem se parecer e crescer de formas diferentes, não sabemos se os planetas que vão surgir em HOPS-315 serão como os nossos. Mesmo assim, cada detalhe nos ajuda a entender o processo geral de formação planetária."- Merel van ’t Hoff, astrônoma, professora da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo.

Com base nessa descoberta, a equipe agora pretende estudar HOPS-315 com ainda mais atenção e já tem outros alvos em vista. “Temos algumas outras estrelas que queremos observar, onde agora esperamos encontrar sinais semelhantes de formação sólida”, diz a pesquisadora.

A expectativa é que, com mais dados, os modelos que explicam como os planetas se formam possam ser refinados - e que isso ajude a entender melhor não só a origem do nosso Sistema Solar, mas também a possibilidade de existirem planetas semelhantes à Terra em outras partes do universo.

Essa descoberta é uma das peças que faltavam no quebra-cabeça. Já sabíamos, pelos meteoritos, que esse processo tinha ocorrido aqui. Agora temos a prova de que ele também está acontecendo lá fora”, concluiu van ’t Hoff.





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